Facebook , as incógnitas políticas de uma fábrica de dólares
A rede social criada 2004 por cinco estudantes universitários, liderados por Mark Zuckerberg, faturou no ano passado o equivalente a 14 bilhões de dólares apenas nos Estados Unidos e Canadá, onde o Facebook foi acessado por 197,7 milhões de norte-americanos e por 18,2 milhões de canadenses, segundo o site Statistic Portal. Para 2017, ainda nestes dois países, a estimativa é que o faturamento com publicidade alcance os 15 bilhões de dólares.

A revista inglesa UK Business Insider calcula que os dados deixados por cada usuário canadense ou norte americano rendem ao Facebook o equivalente a 20 dólares por ano por cabeça. É cerca de cinco vezes o faturamento da rede no resto do mundo, onde seus usuários já ultrapassam os dois bilhões de pessoas.
O faturamento anual do Facebook com publicidade vendida a partir de dados deixados gratuitamente pelos seus usuários, apenas nos Estados Unidos e Canadá é maior do que o PIB de 88 países do mundo e igual ao da Jamaica. Nada mau para uma empresa que não paga nada pela sua principal matéria prima, a informação, e que depois a revende para anunciantes por preços que crescem a medida em que aumenta a sua fatia no mercado publicitário mundial.
O que assusta no Facebook , além da bola de neve de seu faturamento comercial, é o fato de que a rede se transformou num ator político chave no cenário mundial, pois ela tem ascendência direta sobre um terço da população mundial e já assumiu o papel de arena diplomática como mostrou o recente episódio da suposta interferência russa nas eleições norte-americanas de 2016. Isto sem falar em toda a polêmica envolvendo a participação das redes sociais no fenômeno fake news (notícias falsas).
A maioria dos usuários do Facebook não se deu conta do potencial desestabilizador da rede porque ainda a vê como um projeto bem sucedido de alguns visionários da internet. Os internautas também não perceberam que deixam um rastro de dados pessoais que são processados transformando-se num mega acervo informativo que alimenta estratégias de publicidade e marketing, responsáveis por 95% das receitas da empresa dirigida por Zuckerberg.
A incógnita política
Cada vez que você acessa o Face, sua navegação é analisada segundo 98 critérios diferentes, conforme o jornal The Washington Post. Um usuário frequente já deve ter fornecido um volume de dados pessoais que permite à rede saber mais sobre o visitante do que o próprio imagina a seu respeito. Dados como localização geográfica, o tipo de equipamento usado para acessar a rede, relação de amigos, preferencias pessoais com base nos likes, até tipo de comida e restaurante preferidos, doenças, salário, compras recentes e por ai vai.
Pouco se sabe das ideias políticas de Zuckerberg . As únicas pistas disponíveis podem ser encontradas no manifesto que ele distribuiu aos usuários da sua rede em fevereiro deste ao quando o Facebook foi colocado contra a parede por conta das muitas denúncias de que havia favorecido a disseminação de noticias falsas que levaram a vitória de Donald Trump, nas eleições presidenciais norte-americanas .
O manifesto dizia textualmente: “Gostaria de focar na questão mais importante para todos nós. Estamos construindo o mundo que todos desejamos? O progresso exige atualmente uma união de todos os seres humanos, não apenas cidades ou nações, mas também a comunidade global”. O professor e escritor inglês John Naughton qualificou o texto como “imperial e humilhante no uso do pronome nós” bem como a presunção de que “ é possível construir um mundo unificado como todos desejamos”.
O fato é que tanto Zuckerberg como o Facebook são uma mega incógnita politica que já preocupava os donos de grandes jornais porque a rede entrou para valer no próspero negócio da associação de notícias com publicidade, e que agora passou a tirar o sono dos políticos devido ao risco deles perderem o controle sobre seus eleitores. Aqui no Brasil, nós teremos uma amostra da guerra de boatos eleitorais via redes sociais quando começar para valer a campanha politica em 2018.
Tudo indica que o crescimento exponencial de redes como Facebook, Google, Twitter, YouTube, Linikedin e outras menores tende a coloca-las cada vez mais no centro de um jogo de pressões. As redes são um elemento inédito na nossa politica e o fato dos atores tradicionais como partidos e políticos não saberem como manejá-la apavora a todos porque cria a possibilidade do descontrole. Para eles, a internet é um território desconhecido que precisa ser controlado a força, por meio de controles legais de eficiência relativa.
O setor corporativo tradicional também teme o crescimento de redes como o Facebook porque elas passam a intermediar as relações entre produtores e consumidores. O principal temor é o de que ao monopolizar a publicidade online, as redes possam impor novas condições no acesso dos produtores ao mercado consumidor.
E nós, os usuários?
Mas é o usuário comum quem deveria estar mais preocupado com a presença cada vez maior das redes sociais no quotidiano das pessoas. Além de saberem cada vez a respeito de todos nós, o que lhes dá condições de faturar ainda mais sem dar nada em troca, elas podem a qualquer momento repassar estes dados pessoais a serviços de inteligência, governos, movimentos políticos e empresas, sem falar nas agora quase rotineiras invasões de bancos de dados por delinquentes digitais.
A agonizante rede social Yahoo! Levou quase quatro anos para admitir que seu banco de dados foi invadido em 2013 quando foram roubados dados de um bilhão de usuários. Em setembro, a Equifax, uma empresa equivalente a nossa Serasa, admitiu o roubo dos cadastros de 143 milhões de norte-americanos que compraram a crédito no comércio. Também não faz muito tempo, o governo dos Estados Unidos pediu ao Facebook a entrega dos endereços eletrônicos de todos os usuários que compartilharam ou curtiram noticias contrárias ao presidente Trump.
O Facebook e as outras redes aumentaram o fluxo de informações entre quase um terço da população mundial. Nunca ninguém havia conseguido isto antes. Não há dúvidas de que esta foi uma grande conquista. O problema é que ela tem um custo embutido cujas consequências ainda não conhecemos integralmente. Só sabemos que elas são preocupantes.